domingo, 1 de março de 2020

Carnaval Carioca 2020 que Tiro foi esse?

Sem ter a intenção de plagiar a nossa querida cantora Jojo Todinho. Peço licença para pegar carona nessa expressão que balançou o Rio de Janeiro, “que tiro foi esse”! Foi exatamente isso o que aconteceu na Marquês de Sapucaí. Um “tiroteio” a céu aberto que atingiu milhares de pessoas de uma só vez. Cada uma reagindo à sua maneira, é claro, ao recado que foi entregue pelas agremiações que desfilaram. Um dos tiros de maior barulho, ficou por conta das “mulheres negras” da Viradouro de Niterói, a grande campeã deste ano. Elas investiram toda sua formosura, bravura e ancestralidade para “lavar a alma” de todos os que estavam com um grito de insatisfação na garganta. Conseguiram, “lavaram nossa alma” com as águas de Oxum!
O ano de 2019, ano de preparação do carnaval 2020, foi marcado por diversas indignações, principalmente das classes populares e periferias, que historicamente tem seus direitos violados e banalizados, com muita frequência. Mais a população não ficou passiva em “seu berço esplêndido”. Em meio as turbulências, grupos foram se unindo para causar fatos políticos que pudessem demonstrar suas insatisfações mais profundas com a condução das políticas públicas direcionadas ao povo. Destaco aqui dois “fatos políticos” de relevância ocorridos em 2019: • O primeiro é o Manifesto Diversidade Carioca criado pela Frente Favela e Alternativa Popular. Amplamente divulgado na mídia e nas redes sociais,o documento criou força e está ganhando cada vez mais assinaturas. Entre os que já assinaram estão: Sandra de Sá, Léa Garcia, Jennifer Nascimento, Elisa Lucinda, Kleber Lucas, Martinho da Vila e Haroldo Costa.
• O segundo são os samba enredos do carnaval 2020. Criados e escolhidos pelas agremiações, inseridas nas comunidades de base do Rio de Janeiro. Ambos, conseguiram resgatar e afirmar a importância da participação popular no jogo político. Juntaram diferentes gerações, como jovens e veteranos, em torno de uma luta. Focaram o respeito mútuo à diversidade e às identidades. Reuniram artistas, personalidades, mestres, doutores, intelectuais, analfabetos, trabalhadores informais e formais, seres humanos de diferentes cores, etnia, religião e gênero, em um só grupamento reivindicando direitos, respeito, justiça e paz. Meu pai costuma dizer que “quem não sabe ler, observa desenhos”. Nesse sentido eu ouso afirmar, que o manifesto escreveu e os samba enredos desenharam para quem ainda não conseguiu entender a extrema urgência de transformação do cenário carioca. Fazendo bom uso de seus corpos políticos no sambódromo.
Um TIRO certeiro nos governantes, quanto ao tratamento desumano direcionado aos pobres, favelados, indígenas, negros, adeptos das religiões de matriz africanas, mulheres e as pessoas de livre orientação sexual. É obrigatório pensar sobre a sociedade que precisamos transformar. Pensar sobre o que é realmente cuidado? Deixo aqui uma pequena parte da valiosa lição que aprendemos na avenida Marquês de Sapucaí, para que tenhamos fòlego para transformar a realidade que está colocada.
"O Rio de Janeiro é uma cidade, hoje, dividida. Partida. Polarizada. Quebrada. Em seu leito “esplêndido” navegam castas privilegiadas, elites conservadoras que mantém um modelo excludente, ganancioso, de concentração de renda, aumentando, cada vez mais as desigualdades e não permitindo ao povo, o acesso às riquezas que ele ajuda a construir". (Manifesto Diversidade Carioca) Podemos e devemos mudar o jogo. A força para isso, foi mostrada na avenida e não estamos sozinhos!
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