Nise da Silveira
Fernando Diniz nasceu na Bahia,
em 1918. Veio morar com a mãe em casarões de cômodos para baixa renda, no Rio
de Janeiro, aos quatro anos de idade. Negro e pobre, nunca conheceu o pai.
Sempre acompanhava a mãe, costureira, em casas de família de classe média.
Desenvolveu paixão romântica pela filha de uma das clientes que morava em
Copacabana e se chamava Violeta. Desde garoto sonhava ser engenheiro. Estudou em Escola pública e teve boas notas,
mais era sempre discriminado pelas crianças brancas. Quando mais velho, pintou um quadro onde
crianças brancas e negras brincam juntas e sobre o quadro ele falou: “ Isso é
bonito, mais só é real na imaginação”.
Ouviu na Escola por diversas
vezes que o preto não podia ocupar os primeiros lugares menos ainda ser engenheiro. Chegou ao primeiro ano científico, mas
abandonou os estudos na adolescência. E passa andar descuidado de sua aparência
e higiene pessoal.
Em 1944, foi preso e levado
para o Manicômio Judiciário, por estar nadando despido na praia de Copacabana,
seu único ato de rebeldia. Em 1949, foi transferido para o Centro Psiquiátrico
Nacional, em Engenho de Dentro, onde conheceu a Dra. Nise da Silveira. Depois
de receber sessões de eletrochoque e comas insulínicos, que nada resolveram,
foi levado ao ateliê de pintura. Fernando sai do enclausuramento e começa a
pintar com avidez, incentivado pelo tratamento alternativo empregado experimentalmente
pela Dra. Nise da Silveira, de substituir as terapias agressivas da época por
trabalhos artísticos. Com a ajuda dela, Fernando foi incentivado a criar
livremente, dando expressão aos seus estados mentais.
Já doente, após uma cirurgia
nos rins, foi transferido para a Vila da Unidade Docente Assistencial de
Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em 1997, onde
permaneceu produzindo até o seu falecimento em 1999.
Em suas obras mistura o
figurativo e o abstrato, em complexas estruturas de composições. O resultado é
uma sucessão de imagens, superpostas, dinâmicas e coloridas.
Em 1986, o cineasta Leon
Hirzman produz o documentário "Imagens do Inconsciente" que mostra o
processo criativo de produção de Fernando.
O encontro entre a psiquiatra
Nise da Silveira e o cineasta Leon Hirszman está marcado pela não dissociação
de política, sociedade e arte. O trabalho terapêutico e de reabilitação
psicossocial desenvolvido por Nise da Silveira tem como característica o
estabelecimento de importantes conexões com o campo das artes, possibilitando o
diálogo com toda a sociedade. Esse trabalho de transformação cultural e de
mentalidades fez com que fosse questionada a exclusão social dos chamados
doentes mentais e transformada a política de assistência no campo da saúde
mental no Brasil.
A exposição Fernando Diniz - Traços do Inconsciente,
reúne trabalhos inéditos feitos por ele. A mostra conta com diversas composições em
cor, com as formas geométricas já consagradas de Fernando. Ele era um dos
artistas mais emblemáticos descoberto pelas mostras do Museu do Inconsciente. O
reconhecimento de suas obras veio através de exposições no Brasil e no
exterior, publicações, filmes e vídeos que permanecem até os dias de hoje.
0 comentários:
Postar um comentário