O Juiz Federal da 17ª vara federal do Rio de Janeiro, Eugênio
Rosa de Araújo, em resposta a uma ação
do Ministério Público Federal (MPF) que pedia a retirada de vídeos de cultos
evangélicos que foram considerados intolerantes e discriminatórios contra as
práticas religiosas de matriz africana do YouTube, emitiu uma sentença na qual
considera que os “cultos afro-brasileiros não constituem religião” e que
“manifestações religiosas não contêm traços necessários de uma religião”.
A ação do MPF visava a retirada
dos vídeos por considerar que o material continha apologia, incitação,
disseminação de discursos de ódio, preconceito, intolerância e discriminação
contra os praticantes de umbanda, candomblé e outras religiões
afro-brasileiras. “Para se ter uma ideia dos conteúdos, em um dos vídeos, um
pastor diz aos presentes que eles podem fechar os terreiros de macumba do
bairro”, disse o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jaime Mitropoulos
Este episódio profundamente
discriminatório e cruel, protagonizado por um juiz federal, criou na sociedade
um “sentido” de que existem religiões de verdade e de “mentira” e que uma
religião de “verdade” pode perseguir afrontar, discriminar e até mesmo incitar
o ódio por grupos contrários a sua orientação doutrinária.
O que mais me deixa estarrecida é
a profunda semelhança deste episódio com a Inquisição criada na Idade Média (século
XIII), dirigida pela Igreja Católica
Romana. Ela era composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados
uma ameaça às doutrinas desta instituição. Todos os suspeitos eram perseguidos,
censurados e julgados por defenderem ideias contrárias à doutrina cristã, e
aqueles que eram condenados, cumpriam as penas que podiam variar desde prisão
temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os condenados eram
queimados vivos em plena praça pública.
Foram vítimas das perseguições
inquisitoriais: O cientista italiano Galileu (que escapou por pouco da fogueira
por afirmar que o planeta Terra girava ao redor do Sol); o cientista italiano
Giordano Bruno que foi julgado e condenado a morte pelo tribunal; os judeus; as
mulheres que também sofreram nesta época
e foram alvos constantes (os inquisidores consideravam bruxaria todas as
práticas que envolviam a cura através de chás ou remédios feitos de ervas ou
outras substâncias e por serem conhecedoras do poder de cura das plantas eram
consideradas bruxas.
Durante esta triste época da
história, milhares de pessoas foram torturadas ou queimadas vivas por acusações
que, muitas vezes, eram injustas e infundadas. Com um poder cada vez maior nas
mãos, o Grande Inquisidor chegou a desafiar reis, nobres, burgueses e outras
importantes personalidades da sociedade da época. Por fim, esta perseguição aos
considerados hereges e protestantes foi
finalizada somente no início do século XIX.
Acredito que não podemos nos
calar diante de uma atitude do judiciário que EVOCA A UMA INQUISIÇÃO
CONTEMPORÂNEA. A democracia, o estado
laico, a declaração universal dos Direitos Humanos e os demais marcos
regulatórios que tornam a sociedade mais justa, inclusiva e igualitária não nos
foram dados, foram conquistados a preço de sangue, de vidas humanas que merecem
nosso respeito. Não podemos nos calar diante deste retrocesso absolutamente
absurdo.
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