Museu
Nacional comemora Consciência Negra com Mostra de “Negro no Cinema Brasileiro”
No Dia da Consciência Negra, o
Museu Nacional dos Correios abre uma mostra que promete revelar como a
população afrodescendente tem sido retratada pelo cinema nacional ao longo dos
últimos 50 anos. É O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO, que acontece de 20 de novembro
a 02 de dezembro de 2012, sob a curadoria do cineasta, professor e crítico de
cinema Sérgio Moriconi. Ao longo de duas semanas, serão promovidas 24 sessões,
em horários alternativos. De terça a sexta-feira, as exibições acontecem às
12h30 e às 19h, visando oferecer uma oportunidade de unir descanso e informação
para quem trabalha nas proximidades do Setor Comercial Sul (onde está o Museu
Nacional dos Correios) e quer fugir do trânsito pesado. Aos sábados e domingos,
sessões às 15h e às 17h. A entrada é franca. A mostra tem o patrocínio
exclusivo dos CORREIOS.
No sábado, dia 24, logo após a
sessão das 17h, palestra com o professor da Universidade de Brasília Rafael
Sanzio dos Anjos, autor de textos como Dinâmica Territorial:
Cartografia-Modelagem-Monitoramento, 2007, Quilombos: Geografia Africana -
Cartografia Ética - Territórios Tradicionais, 2009 e Territorialidade
Quilombola: Fotos & Mapas, 2011".
O
NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO pretende estimular a presença de jovens,
estudantes, universitários e de ensino médio, cinéfilos, pessoas que trabalham
e circulam nas proximidades do Museu Nacional dos Correios e público em geral
para uma reflexão sobre a história e da importância da presença dos
afrodescendentes na constituição cultural, econômica e socioeconômica do país,
além de permitir um debate sobre a situação atual.
A
MOSTRA
O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO
vai exibir títulos que percorrem a história do cinema no Brasil. A começar por
Amei um bicheiro, de 1952, policial inspirado nos filmes noir, sobre o jogo do
bicho e que contém a cena que o lendário ator Grande Otelo considerava a melhor
de toda sua carreira: a morte de seu personagem, Passarinho. O passeio continua
com o clássico Orfeu Negro, 1959, de Marcel Camus, que venceu em Cannes e
recebeu o Globo de Ouro ao transpor para o carnaval carioca da década de 50 o mito
de Orfeu e Eurídice.
Um dos mais importantes filmes
do cinema brasileiro, Assalto ao Trem Pagador, de 1962, dirigido por Roberto
Farias, tinha como protagonistas os atores Eliezer Gomes, Grande Otelo, Ruth de
Souza e Luíza Maranhão. Na tela, a encenação de um fato real: o assalto ao trem
da Central do Brasil, em 1960. Um título emblemático, A Rainha Diaba, 1974, de
Antonio Carlos Fontoura, afirmou o imenso talento do ator Milton Gonçalves. Na
pele de um homossexual que dominava o tráfico de drogas na Lapa, no Rio de
Janeiro, Milton arrebatou o Brasil. O filme foi premiado no Festival de
Brasília.
Em 1998, o cineasta Renato
Barbieri e o pesquisador Victor Leonardi percorreram o caminho trilhado pelos
africanos feitos escravos no Brasil e conceberam o premiado Atlântico Negro –
na rota dos Orixás, que mostra as afinidades existentes entre comunidades
separadas pelo Oceano Atlântico.
Mas foi nos anos 2000 que se assistiu a um boom da presença do negro no cinema brasileiro. Títulos como Uma onda no ar, de Helvécio Ratton, e Madame Satã, de Karim Aïnouz, de 2002, apresentavam diferentes aspectos da realidade social da população afrodescendente no País. Com seu filme sobre a criação de uma Rádio Comunitária numa favela de Belo Horizonte e da repressão policial que seus criadores vieram a sofrer, Ratton mostrou pessoas que tentam romper a rotina de tráfico e violência. Karim Aïnouz em seu longa de estreia, Madame Satã, magnificamente protagonizado por Lázaro Ramos, retrata a vida do malandro homossexual que comandava a vida boêmia na Lapa. O filme recebeu prêmios no Brasil, em Havana, Cartagena e Buenos Aires, dentre outros.
Quase dois irmãos, 2004, de
Lúcia Murat, revela o encontro de ex-companheiros de infância que seguiram
rumos distintos – um se tornou senador da República e outro chefe do tráfico de
drogas numa comunidade carioca. No elenco, Flávio Buraqui e Antonio Pompêo,
dentre outros. Do mesmo ano de 2004, Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo, traz
um elenco estelar: Ruth de Souza, Léa Garcia, Milton Gonçalves, Taís Araújo,
Thalma de Freitas, Rocco Pitanga. Em cena, a história de duas irmãs que após
muitos anos se encontram numa pequena cidade mineira onde ainda vivem os
fantasmas da escravidão e do racismo.
Uma seleção de filmes que prova
que – embora ainda marcado por temas ligados a uma realidade sócio-cultural de
exclusão – o cinema contemporâneo tem tentado fugir do arquétipo e construir
uma imagem afirmativa do negro e de sua cultura.
PALESTRA
No sábado, dia 24 de novembro,
haverá palestra do professor Rafael Sanzio dos Anjos, graduado em Geografia
pela Universidade Federal da Bahia (1982), com Especialização na Universidade
Estadual Paulista (Rio Claro 1985), Mestrado em Planejamento Urbano pela FAU da
Universidade de Brasília (1990), Doutorado em Informações Espaciais no Depto.
de Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (1995) e
Pós-Doutoramento em Cartografia Étnica no Museu Real da África Central em
Tervuren - Bélgica (2007-2008).
Atualmente, Rafael Sanzio dos
Anjos atua como Professor Associado III do Departamento de Geografia da
Universidade de Brasília e Diretor do Centro de Cartografia Aplicada e
Informação Geográfica (CIGA), onde é Coordenador dos Projetos Geografia
Afro-Brasileira: Educação e Planejamento do Território (Projeto GEOAFRO) e
Instrumentação Geográfica, Educação Espacial e Dinâmica Territorial.
Tem experiência no uso e
aplicação das tecnologias geográficas aplicadas ao planejamento, monitoramento
e gestão territorial, particularmente do Distrito Federal, RIDE e também dos
mapeamentos e laudos dos territórios tradicionais africanos no Brasil. Outras
linhas de trabalho e pesquisa estão associadas à produção de materiais
cartográficos didáticos e instrucionais para os diferentes níveis de ensino e
educação geográfica. Coordena o Grupo de Pesquisa consolidado GEOCARTE/CNPQ e é
membro do Comitê Brasileiro do Projeto Rota do Escravo - UNESCO, onde
desenvolve a Pesquisa Cartografia da Diáspora África - América - Brasil e
participa do African Scientific Institute (ASI).
Suas publicações mais recente
são Dinâmica Territorial: Cartografia – Modelagem -Monitoramento, 2007,
Cartografia & Educação - Vol I, 2008, Quilombos: Geografia Africana -
Cartografia Ética - Territórios Tradicionais, 2009, Territorialidade
Quilombola: Fotos & Mapas, 2011, Cartografia & Geografia Referências
para Educação, 2012 e o mapa didático-educacional Geopolítica da Diáspora
África América Brasil. Séculos XV-XVI-XVII-XVIII-XIX: Cartografia para
Educação, 2012.
UM
POUCO DE HISTÓRIA
O escravo, o sambista, o
malandro, a mulata. Foi assim que durante muito tempo o negro foi representado
no cinema brasileiro. Figuras ligadas a arquétipos do candomblé e da umbanda
serviam de contornos para a criação de personagens que somente reafirmavam
aspectos caricaturais da população afrodescendente. Com o passar dos anos e a
influência do chamado Cinema Negro no Brasil, foram surgindo personagens reais
individualizados, vividos por um grupo de atores que estão entre os melhores do
cinema, do teatro e da televisão no Brasil. A mostra O NEGRO NO CINEMA
BRASILEIRO promete contar um pouco desta história, percorrendo mais de 50 anos
de cinema.
O cinema estabelece com o
interlocutor uma relação centrada no imaginário, no desejo e na construção
simbólica de cada um. Pensar no cinema como veículo de reprodução ideológica –
ou espaço de construção simbólica – ajuda a compreender porque a imagem do
negro no cinema é, muitas vezes, apresentada de maneira superficial,
estereotipada, pautada na depreciação. Nos tempos das famosas chanchadas, tudo
servia de motor para a piada, inclusive aspectos sociais e étnicos. A população
negra não saiu impune destes tempos. Mas o gênero revelou atores de talento
insuperável, como Grande Otelo.
O Cinema Novo inaugura novos
tempos, com a representação mais politizada da população brasileira.
Simultaneamente, surgem os filmes históricos, que revelam atos de rebelião dos
negros durante a escravidão. A partir da década de 70, surgiram obras
importantes sobre o negro e sua cultura, como Compasso de Espera (1969), de
Antunes Filho, Amuleto de Ogum (1974) e A Tenda dos Milagres (1977), de Nelson
Pereira dos Santos, e Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues. Filmes que se
tornaram sucesso de bilheteria, os títulos projetaram atores negros. E foi
assim, com o avanço da produção cinematográfica, que o negro foi tomando o
centro da cena. Atores como Milton Gonçalves, Neusa Borges, Zezé Motta passaram
a discutir seus próprios personagens, recusando aqueles que consideravam
estereotipados.
PROGRAMAÇÃO
TERÇA-FEIRA, 20.11
12h30 – Ó, pai, ó – 96’
19h – Besouro – 94’
QUARTA-FEIRA, 21.11
12h30 – Atlântico Negro – 54’
19h – Paulinho da Viola – meu tempo é hoje – 83’
QUINTA-FEIRA, 22.11
12h30 – Amei um Bicheiro – 90’
19h – Madame Satã – 99’
SEXTA-FEIRA, 23.11
12h30 – Quase dois irmãos - 104’
19h – Ó, pai, ó – 96’
SÁBADO, 24.11
15h – A Falta que me faz – 85’
17h – Orfeu Negro – 90’
SESSÃO SEGUIDA DE PALESTRA COM O PROFESSOR RAFAEL SANZIO DOS
ANJOS
DOMINGO, 25.11
15h – Atlântico Negro – 54’
17h – Besouro – 94’
TERÇA-FEIRA, 27.11
12h30 – Filhas do Vento – 85’
19h – Paulinho da Viola - meu tempo é hoje – 83’
QUARTA-FEIRA , 28.11
12h30 – Assalto ao Trem Pagador – 103’
19h – Quase Dois Irmãos – 104’
QUINTA-FEIRA , 29.11
12h30 – Uma Onda no ar – 92’
19h – Rainha Diaba – 99’
SEXTA-FEIRA , 30.11
12h30 – Madame Satã – 99’
19h – Uma Onda no ar – 92’
SÁBADO, 1º.12
15h – Rainha Diaba – 99’
17h – Amei um Bicheiro – 90’
DOMINGO, 2.12
15h – Filhas do Vento – 85’
17h – Estamira – 121’
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